segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Funções da Linguagem

Funções da Linguagem
Ao produzir um texto você também realiza a comunicação. Nesse ato, além de querer ser compreendido, deseja que suas ideias sejam depreendidas e aceitas pelo receptor. E, para a eficácia desse processo, são precisos seis elementos: emissor, receptor, canal, mensagem, código e contexto ou referente. Com base nesses elementos, podemos articular outro elemento, conforme a intenção do ato comunicativo. Deste modo, a linguagem atingiria diferentes funções ao dar prioridade a determinado elemento da comunicação. Classificamos essas funções em seis tipos: emotiva ou expressiva; referencial ou informativa; poética, conativa ou apelativa; fática e metalinguística.
Emotiva ou Expressiva
Leia a seguir a carta escrita por Jorge Amado a Zélia Gattai quando o escritor participava do Congresso da Paz, em Viena, em 1951. Essa carta é um exemplo de função emotiva.
Viena, 4
Meu amor,
Recebi hoje pela manhã teu telegrama, vou a buscar amanhã, segunda-feira, os remédios pedidos.
Faço-te este bilhete durante uma reunião de Comissão para te enviar minha saudade a ti, a João e a Paloma.
Nunca tive tanto trabalho em toda a minha vida. Entro no local da reunião antes das 8 da manhã e saio sempre depois da meia-noite. Ontem saí 1 e meia da manhã e fui despertado com teu telegrama às 6h. Estou fatigadíssimo.
Todo mundo vai sem novidade. Todos te enviam abraços.
Neste momento que te escrevo Dona Branca deve estar falando em plenário. Oh! Meu Deus!,
que senhora chata. Já estou farto.
Fiquei contente em saber que todos estão bem. Beija os meninos por mim e recebe um beijo meu com toda a saudade e o carinho do teu
Jorge”.
Com a leitura, você observa que o autor está centrado em si mesmo, revelando seus sentimentos e suas emoções (minha saudade a ti, Fiquei contente), por isso é comum a constância do pronome de primeira pessoa (minha, meu, mim) e verbos nessa mesma pessoa (recebi, tive, saio, escrevo…)
O texto manifesta também opiniões (Oh! Meu Deus!, que senhora chata). A realidade do autor é retratada de forma subjetiva, é o seu ponto de vista que está em jogo. Além dessas características analisadas, o ponto de interrogação, reticências e exclamações são sinais que revelam emoções do emissor.
Portanto, tudo o que em uma mensagem revelar emoções, sentimentos, opiniões e avaliações do emissor diante da vida pertencerá à função emotiva da linguagem.
Referencial ou Informativa
Leia a notícia apresentada a seguir.
06/02/2007 – 13h37 – G1 – Planeta Bizarro
Polícia prende 155 cabras e leva todas de camburão para a delegacia
Devastaram plantação de tomate e milho de um argentino.
Verdadeiro dono não apareceu para pagar fiança.
MENDOZA, Argentina – O agricultor Antonio Vergel decidiu colher alguns dos tomates e milhos que cultiva em seu sítio em Mendoza, na Argentina e, quando pôs os olhos na plantação, seu coração gelou: uma quantidade inacreditável de cabras devorava tudo o que via pela frente.
Depois de tentar sem sucesso espantar a horda de invasores, Vergel ligou para a delegacia, segundo foi publicado no site argentino Infobae.
“Eram dez e pouco da manhã e o homem, alucinado, nos contava sua tragédia. Fomos ao local com um caminhão preparado para o transporte de animais, mas chegando lá vimos que eram realmente muitas”, declarou um dos policiais ao Los Andes online.
Uma a uma, elas eram colocadas no caminhão na condição de presas. Foram encaminhadas a um centro de detenção de animais da polícia em Los Corralitos.
Na mesma tarde, pelo menos três pessoas apareceram dizendo ser as proprietárias do rebanho. A polícia afirmou que não vai ser assim tão fácil tirar a bicharada da cadeia.
Elas foram enquadradas no código 114 do Código Penal argentino, e o verdadeiro dono das cabras vai ter que pagar uma nota para libertá-las. Sem falar nos tomates e milhos do agricultor inconformado.
Você notou, que a notícia acima, o autor utiliza a linguagem de forma direta, objetiva e impessoal: não tece comentários ou expressa qualquer juízo de valor quanto ao assunto abordado. Além disso, os vocábulos não são empregados em sentido figurado, negando a possibilidade de mais de uma interpretação por parte do leitor. A mensagem foi organizada com a intenção de transmitir informação precisa.
Portanto, no texto em questão, predomina a função referencial (denotativa) da linguagem, centrada na informação.
Pode-se encontrar esse tipo de função em textos de caráter científico e jornalístico. Também predomina a função referencial na combinação do código não-verbal e verbal, como pode ser visto no exemplo.
Poética
A rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!
Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.
(Vinicius de Moraes)
O poema A rosa de Hiroshima revela que o poeta desejava valorizar a mensagem a ser transmitida e, para isso, além de explorar o conteúdo (os efeitos da bomba), também se preocupou com a forma de construção do texto. Para construí-lo, o autor cultivou alguns recursos que são capazes de despertar no leitor certo prazer estético (pelo seu caráter inovador) e uma determinada impressão.
Logo, quando o emissor se preocupa em enfatizar a construção e a elaboração da mensagem, tem-se o predomínio da função poética. Embora esta seja mais corrente em poesias também pode ser encontrada em textos publicitários, alguns textos jornalísticos (crônicas) e populares (provérbios) e romances (Iracema, de José de Alencar, por exemplo, é um poema em prosa).
Desafios
Questão 1
Leia este texto abaixo e identifique qual a função da linguagem predominante nele. Dê duas justificativas.
A rainha Elizabeth I, conhecida como a Rainha Virgem, adotou a Rosa Tudor como seu emblema e escolheu as palavras “Rosa sine spina” como seu mote. Ficou conhecida como rosa sem espinho e muitos dos poetas elisabetanos escreveram sobre ela. A rosa tem sido o emblema nacional da Inglaterra desde então. O país é famoso por suas rosas e é raro um jardim que não as contenha. Não há nada igual ao perfume dessas flores, e é uma felicidade que a arte dos perfumistas tenha atingido tamanho grau de sofisticação que lhes permita reproduzir o aroma para nós e para os lares. Mas é Shakespeare que tão perfeitamente sumariza as virtudes da rosa em suas palavras.
(A linguagem das Flores, Sheila Pickles. Melhoramentos: São Paulo, 1990. P.93)
Questão 2
Leia o poema a seguir e identifique qual a função da linguagem predominante nele. Dê duas justificativas.
Soneto LIV
Ó como mais bela a beleza torna-se
quando tem o doce ornamento da verdade!
A rosa é bela, mas mais bela a vemos
pelo doce aroma que nela habita.
As rosas silvestres têm a mesma cor
que as doces rosas perfumadas,
os mesmos espinhos, a mesma volúpia
quando o ar do verão expõe os botões escondidos;
mas como têm na aparência única virtude,
elas vivem esquecidas e murcham obscuras,
sozinhas morrem. As doces rosas, não;
de suas doces mortes nascem os mais doces perfumes.
Assim também de ti, bela e amável jovem,
fenecido o frescor, tua verdade em meu verso persiste.
(Willian Shakespeare)
Questão 3///
Questão 4
Em relação ao texto apresentado a seguir, assinale a opção que indica corretamente qual é a função da linguagem predominante.
Humor
Excelente o texto de Sírio Possenti sobre as frases humoradas e seus sentidos (Língua 75). Uma grande oportunidade para entender o idioma sem caretices.
Marta Oliveira Sérgio (BA), na seção Cartas de leitor da Revista Língua Portuguesa.
a) Função poética, porque o texto centra-se na mensagem e em como ela é transmitida.
b) Função conativa, pois o autor utiliza diversos recursos para convencer o leitor de suas ideias.
c) Função metalinguística, uma vez que faz reflexões sobre o próprio código.
d) Função referencial, na qual o emissor tem a função de transmitir informações.
e) Função emotiva, pois o texto expressa uma opinião e de forma subjetiva para revelar o “eu” que fala ao leitor.
Questão 5
(Enem/ 2009)
Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[…]
O vento varria os sonhos
E varria as amizades…
O vento varria as mulheres…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos…
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
(BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.)
Predomina no texto a função da linguagem:
a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.
b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.



Funções da Linguagem (Parte II)
Dependendo da intenção que se deseja alcançar no processo de comunicação, a linguagem em uso pode assumir diferentes funções. Vimos, na aula anterior, as funções emotiva, referencial e poética. Nesta aula, estudaremos as funções conativa, fática e metalinguística.
Conativa ou apelativa
Está centrada no receptor e possui o objetivo de influenciar o comportamento daquele que recebe a mensagem e também chamar a sua atenção. Essa função tem a intenção de fazer com que as pessoas mudem de atitude, em razão disso, é comum o emprego do verbo no modo imperativo, uso de vocativos. Encontramos esse processo de comunicação em sermões, discursos, anúncios, campanhas publicitárias, placas de trânsito e até mesmo em uma receita de bolo.
E se a gente levasse a vida com mais humor?
Talvez, a gente descobrisse
Um jeito mais leve de
Se relacionar com quem está à nossa volta.
Reparando menos em chatices
E mais nos pequenos prazeres.
Abrindo um pouco o sorriso
- Nem que seja pra rir de si mesmo.
Espalhe seu humor por aí,
Divida uma risada com alguém.
Note que depois de todo um discurso de sedução, no final do poema há os verbos no imperativo (espalhe, divida) indicativos da função conativa.
Fática
Leia o diálogo a seguir.
- Não. Tem certeza de que nós fomos colegas?
- Tenho.
- Que engraçado. Eu não… Olha: desculpe, viu?
- O que é isso? Acontece.
- Esse café. Será que a gente pode…
- Claro. Fica pra outra vez.
- Desculpe, hein? Cabeça, a minha.
- Tudo bem.
- Então… Tchau.
- Ana Beatriz…
- Ahn?
- E se eu dissesse que meu nome é Martins?
- Mas não é.
 Nessa conversa entre os dois personagens anônimos, há falas através das quais poucas informações são transmitidas. No caso, o que se pretende é manter o contato entre eles.
Portanto, a função fática envolve o contato entre emissor e receptor para iniciar a comunicação, prolongar o contato, interromper o ato de comunicação ou testar a eficiência do canal.
Outro exemplo de função fática são os bate-papos na internet, as histórias em quadrinhos, algumas charges e tirinhas, como podemos observar a seguir
Metalinguística
Quando o código é usado para falar dele mesmo, também pode ser chamado de função metalinguagem. Os dicionários representam bem essa função, tendo em vista que ele define o significado das palavras, revelando o que elas são. A função em questão está centrada no próprio código: uma poesia que fala da própria poesia, uma peça de teatro que explica o próprio teatro, uma pessoa que faz seu autorretrato são exemplos de função metalinguística. Veja os exemplos a seguir na linguagem verbal e na linguagem não verbal.
 Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico
substantivo feminino
Rubrica: pneumologia.
Doença pulmonar (pneumoconiose) aguda causada pela aspiração de cinzas vulcânicas.
O Auto-retrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Terminado por um louco!
(Mário Quintana)

Para finalizar o assunto das funções da linguagem, é preciso saber que não existe função meramente pura quando redigimos, porém há aquela que predomina no texto. Além disso, cada mensagem a ser transmitida está intimamente ligada à intenção do falante, às funções e aos elementos da comunicação, como mostra o esquema.

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