Ao produzir um texto você também realiza a
comunicação. Nesse ato, além de querer ser compreendido, deseja
que suas ideias sejam depreendidas e aceitas pelo receptor. E, para a
eficácia desse processo, são precisos seis elementos: emissor,
receptor, canal, mensagem, código e contexto ou referente. Com base
nesses elementos, podemos articular outro elemento, conforme a
intenção do ato comunicativo. Deste modo, a linguagem atingiria
diferentes funções ao dar prioridade a determinado elemento da
comunicação. Classificamos essas funções em seis tipos: emotiva
ou expressiva; referencial ou informativa; poética, conativa ou
apelativa; fática e metalinguística.
Emotiva ou Expressiva
Leia a seguir a carta escrita por Jorge Amado a
Zélia Gattai quando o escritor participava do Congresso da Paz, em
Viena, em 1951. Essa carta é um exemplo de função emotiva.
Viena, 4Meu amor,
Recebi hoje pela manhã teu telegrama, vou a buscar amanhã, segunda-feira, os remédios pedidos.
Faço-te este bilhete durante uma reunião de Comissão para te enviar minha saudade a ti, a João e a Paloma.
Nunca tive tanto trabalho em toda a minha vida. Entro no local da reunião antes das 8 da manhã e saio sempre depois da meia-noite. Ontem saí 1 e meia da manhã e fui despertado com teu telegrama às 6h. Estou fatigadíssimo.
Todo mundo vai sem novidade. Todos te enviam abraços.
Neste momento que te escrevo Dona Branca deve estar falando em plenário. Oh! Meu Deus!,
que senhora chata. Já estou farto.
Fiquei contente em saber que todos estão bem. Beija os meninos por mim e recebe um beijo meu com toda a saudade e o carinho do teu
Jorge”.
Com a leitura, você observa que o autor está
centrado em si mesmo, revelando seus sentimentos e suas emoções
(minha saudade a ti, Fiquei contente), por isso é comum a constância
do pronome de primeira pessoa (minha, meu, mim) e verbos nessa mesma
pessoa (recebi, tive, saio, escrevo…)
O texto manifesta também opiniões (Oh! Meu
Deus!, que senhora chata). A realidade do autor é retratada de forma
subjetiva, é o seu ponto de vista que está em jogo. Além dessas
características analisadas, o ponto de interrogação, reticências
e exclamações são sinais que revelam emoções do emissor.
Portanto, tudo o que em uma mensagem revelar
emoções, sentimentos, opiniões e avaliações do emissor diante da
vida pertencerá à função emotiva da linguagem.
Referencial ou InformativaLeia a notícia apresentada a seguir.
06/02/2007 – 13h37 – G1 – Planeta Bizarro
Polícia prende 155 cabras e leva todas de camburão para a delegacia
Devastaram plantação de tomate e milho de um argentino.
Verdadeiro dono não apareceu para pagar fiança.
MENDOZA, Argentina – O agricultor Antonio
Vergel decidiu colher alguns dos tomates e milhos que cultiva em seu
sítio em Mendoza, na Argentina e, quando pôs os olhos na plantação,
seu coração gelou: uma quantidade inacreditável de cabras devorava
tudo o que via pela frente.
Depois de tentar sem sucesso espantar a horda
de invasores, Vergel ligou para a delegacia, segundo foi publicado no
site argentino Infobae.
“Eram dez e pouco da manhã e o homem,
alucinado, nos contava sua tragédia. Fomos ao local com um caminhão
preparado para o transporte de animais, mas chegando lá vimos que
eram realmente muitas”, declarou um dos policiais ao Los Andes
online.
Uma a uma, elas eram colocadas no caminhão na
condição de presas. Foram encaminhadas a um centro de detenção de
animais da polícia em Los Corralitos.
Na mesma tarde, pelo menos três pessoas
apareceram dizendo ser as proprietárias do rebanho. A polícia
afirmou que não vai ser assim tão fácil tirar a bicharada da
cadeia.
Elas foram enquadradas no código 114 do
Código Penal argentino, e o verdadeiro dono das cabras vai ter que
pagar uma nota para libertá-las. Sem falar nos tomates e milhos do
agricultor inconformado.
Você notou, que a notícia acima, o autor utiliza
a linguagem de forma direta, objetiva e impessoal: não tece
comentários ou expressa qualquer juízo de valor quanto ao assunto
abordado. Além disso, os vocábulos não são empregados em sentido
figurado, negando a possibilidade de mais de uma interpretação por
parte do leitor. A mensagem foi organizada com a intenção de
transmitir informação precisa.
Portanto, no texto em questão, predomina a função
referencial (denotativa) da linguagem, centrada na informação.
Pode-se encontrar esse tipo de função em textos
de caráter científico e jornalístico. Também predomina a função
referencial na combinação do código não-verbal e verbal, como
pode ser visto no exemplo.
PoéticaA rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!
Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.
(Vinicius de Moraes)
O poema A rosa de Hiroshima revela que o poeta
desejava valorizar a mensagem a ser transmitida e, para isso, além
de explorar o conteúdo (os efeitos da bomba), também se preocupou
com a forma de construção do texto. Para construí-lo, o autor
cultivou alguns recursos que são capazes de despertar no leitor
certo prazer estético (pelo seu caráter inovador) e uma determinada
impressão.
Logo, quando o emissor se preocupa em enfatizar a
construção e a elaboração da mensagem, tem-se o predomínio da
função poética. Embora esta seja mais corrente em poesias também
pode ser encontrada em textos publicitários, alguns textos
jornalísticos (crônicas) e populares (provérbios) e romances
(Iracema, de José de Alencar, por exemplo, é um poema em prosa).
DesafiosQuestão 1
Leia este texto abaixo e identifique qual a função da linguagem predominante nele. Dê duas justificativas.
A rainha Elizabeth I, conhecida como a Rainha
Virgem, adotou a Rosa Tudor como seu emblema e escolheu as palavras
“Rosa sine spina” como seu mote. Ficou conhecida como rosa sem
espinho e muitos dos poetas elisabetanos escreveram sobre ela. A rosa
tem sido o emblema nacional da Inglaterra desde então. O país é
famoso por suas rosas e é raro um jardim que não as contenha. Não
há nada igual ao perfume dessas flores, e é uma felicidade que a
arte dos perfumistas tenha atingido tamanho grau de sofisticação
que lhes permita reproduzir o aroma para nós e para os lares. Mas é
Shakespeare que tão perfeitamente sumariza as virtudes da rosa em
suas palavras.
(A linguagem das Flores, Sheila Pickles.
Melhoramentos: São Paulo, 1990. P.93)
Questão 2Leia o poema a seguir e identifique qual a função da linguagem predominante nele. Dê duas justificativas.
Soneto LIV
Ó como mais bela a beleza torna-se
quando tem o doce ornamento da verdade!
A rosa é bela, mas mais bela a vemos
pelo doce aroma que nela habita.
As rosas silvestres têm a mesma cor
que as doces rosas perfumadas,
os mesmos espinhos, a mesma volúpia
quando o ar do verão expõe os botões escondidos;
mas como têm na aparência única virtude,
elas vivem esquecidas e murcham obscuras,
sozinhas morrem. As doces rosas, não;
de suas doces mortes nascem os mais doces perfumes.
Assim também de ti, bela e amável jovem,
fenecido o frescor, tua verdade em meu verso persiste.
(Willian Shakespeare)
Questão 3///
Questão 4
Em relação ao texto apresentado a seguir, assinale a opção que indica corretamente qual é a função da linguagem predominante.
Humor
Excelente o texto de Sírio Possenti sobre as frases humoradas e seus sentidos (Língua 75). Uma grande oportunidade para entender o idioma sem caretices.
Marta Oliveira Sérgio (BA), na seção Cartas de leitor da Revista Língua Portuguesa.
a) Função poética, porque o texto centra-se na mensagem e em como ela é transmitida.
b) Função conativa, pois o autor utiliza diversos recursos para convencer o leitor de suas ideias.
c) Função metalinguística, uma vez que faz reflexões sobre o próprio código.
d) Função referencial, na qual o emissor tem a função de transmitir informações.
e) Função emotiva, pois o texto expressa uma opinião e de forma subjetiva para revelar o “eu” que fala ao leitor.
Questão 5
(Enem/ 2009)
Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[…]
O vento varria os sonhos
E varria as amizades…
O vento varria as mulheres…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos…
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
(BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.)
Predomina no texto a função da linguagem:
a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.
b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.
Dependendo da intenção que se deseja alcançar
no processo de comunicação, a linguagem em uso pode assumir
diferentes funções. Vimos, na aula anterior, as funções emotiva,
referencial e poética. Nesta aula, estudaremos as funções
conativa, fática e metalinguística.
Conativa ou apelativa
Está centrada no receptor e possui o objetivo de
influenciar o comportamento daquele que recebe a mensagem e também
chamar a sua atenção. Essa função tem a intenção de fazer com
que as pessoas mudem de atitude, em razão disso, é comum o emprego
do verbo no modo imperativo, uso de vocativos. Encontramos esse
processo de comunicação em sermões, discursos, anúncios,
campanhas publicitárias, placas de trânsito e até mesmo em uma
receita de bolo.
E se a gente levasse a vida com mais humor?Talvez, a gente descobrisse
Um jeito mais leve de
Se relacionar com quem está à nossa volta.
Reparando menos em chatices
E mais nos pequenos prazeres.
Abrindo um pouco o sorriso
- Nem que seja pra rir de si mesmo.
Espalhe seu humor por aí,
Divida uma risada com alguém.
Note que depois de todo um discurso de sedução,
no final do poema há os verbos no imperativo (espalhe, divida)
indicativos da função conativa.
FáticaLeia o diálogo a seguir.
- Não. Tem certeza de que nós fomos colegas?
- Tenho.
- Que engraçado. Eu não… Olha: desculpe, viu?
- O que é isso? Acontece.
- Esse café. Será que a gente pode…
- Claro. Fica pra outra vez.
- Desculpe, hein? Cabeça, a minha.
- Tudo bem.
- Então… Tchau.
- Ana Beatriz…
- Ahn?
- E se eu dissesse que meu nome é Martins?
- Mas não é.
Nessa conversa entre os dois personagens
anônimos, há falas através das quais poucas informações são
transmitidas. No caso, o que se pretende é manter o contato entre
eles.
Portanto, a função fática envolve o contato
entre emissor e receptor para iniciar a comunicação, prolongar o
contato, interromper o ato de comunicação ou testar a eficiência
do canal.
Outro exemplo de função fática são os
bate-papos na internet, as histórias em quadrinhos, algumas charges
e tirinhas, como podemos observar a seguir
Metalinguística
Quando o código é usado para falar dele mesmo,
também pode ser chamado de função metalinguagem. Os dicionários
representam bem essa função, tendo em vista que ele define o
significado das palavras, revelando o que elas são. A função em
questão está centrada no próprio código: uma poesia que fala da
própria poesia, uma peça de teatro que explica o próprio teatro,
uma pessoa que faz seu autorretrato são exemplos de função
metalinguística. Veja os exemplos a seguir na linguagem verbal e na
linguagem não verbal.
Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconióticosubstantivo feminino
Rubrica: pneumologia.
Doença pulmonar (pneumoconiose) aguda causada pela aspiração de cinzas vulcânicas.
O Auto-retrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Terminado por um louco!
(Mário Quintana)
Para finalizar o assunto das funções da
linguagem, é preciso saber que não existe função meramente pura
quando redigimos, porém há aquela que predomina no texto. Além
disso, cada mensagem a ser transmitida está intimamente ligada à
intenção do falante, às funções e aos elementos da comunicação,
como mostra o esquema.
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